09 dezembro 2021

N2 - A PT Roadtrip 2021

Quando
falamos na Mother Road, claro que nos lembramos da Route66 que vai de Chicago a Santa Mónica, LA (fiz 300km dessa mesma estrada em 2015, podem ler tudo aqui - Midwest Americano e NY - Julho 2015). Mas, e a Estrada Mãe aqui no nosso canto plantado à beira mar? É verdade, temos uma, a Nacional 2 com os seus gloriosos e não menos excitantes 738km, única na Europa que atravessa um país na sua longitude. Percorre 35 concelhos, tem 11 pontes sobre rios e atravessa 11 serras. Querem melhor para conhecer as belas paisagens que compõem Portugal? Relaxem na vossa cadeira e tirem ideias para a vossa próxima viagem.

Combinei com o meu amigo João (quem mais? é sempre ele que me acompanha nestes km de mota) sair cedo de Lisboa para irmos almoçar a Chaves. Era inicio de Junho, tinham passados quase 3 anos depois da minha (nossa) última viagem de mota (podem ler tudo aqui - Galicia Roadtrip 2018) e estamos numa pandemia que teima em não nos deixar mas já estava a precisar espairecer e como ia andar de mota muito dificilmente iria estar em contacto com pessoas. A viagem até Chaves fez-se bem, sempre em AE, o tempo ao passar a Serra de Candeeiros mudou um pouco e ficou um pouco de frio e húmido, a querer chover, mas ao passar Viseu o tempo melhorou e ficou bastante calor. 

Após repor energias era tempo de pensar no que fazer a seguir. Fomos até ao KM0 para beber um café e decidimos começar o caminho ainda naquela tarde. O tempo estava optimo e ambos conhecemos Chaves pelo que não havia nada específico que quiséssemos ver então pusemo-nos a caminho munidos do Passaporte da N2, uma espécie de diário para carimbar nos pontos mais importantes do percurso (e aqueles cujos municípios pagaram para aparecer porque não faz sentido fazer um desvio de 30 ou 40 km para fazer mais um carimbo se a estrada nem passa lá).

Partimos sem destino específico, só a aproveitar o bom tempo e andar até a fome apertar. Como o norte de Portugal é zona de montanha a estrada é sempre cheia de curva e contra-curva mas largas o suficiente para parecer que estamos a voar e a deslizar ao sabor da brisa. Demos o dia por terminado no Peso da Régua e tentamos procurar um sitio para dormir. Pelos vistos não são grandes fans de parques de campismo nesta zona, não havia nada perto. Verifiquei que havia um parque de caravanismo por baixo da Ponte da Régua que é apenas um espaço com uns sítios delineados com relva e electricidade geridos pelo Clube de Caça e Pesca local. Perguntamos se podíamos montar as tendas ali e disseram logo que sim, que não haveria qualquer problema, se fosse preciso electricidade acho que era 1 ou 2 euros por noite. Dormir está resolvido, vamos então sentar numa pizzaria que estamos cheios de fome. Nessa noite adormeci ao som dos carros que passavam lá bem em cima na ponte da A24.


Segundo dia começou cinzento e fresco e assim ficou. Bebemos um cafézinho e seguimos pela N2 até Lamego. Demos de caras com a placa dos 100km a 4km de Lamego, tiramos a foto da praxe e seguimos para uma visita rápida ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios que tem uma escadaria que faz qualquer pessoa tremer das pernas. Verifiquei no Google Maps que tinha um ponto de interesse ali perto e que já o tinhamos passado, a Barragem do Varosa. Voltamos atrás pela N2, seguimos por uma rua bastante secundária perto do KM100 em direcção à barragem em que certa altura o alcatrão acaba e o caminho fica bastante sinuoso. A barragem tem uma particularidade engraçada, uma escadaria na lateral que quase parece um labirinto, só por isso vale a pena o pequeno desvio!
Fizemos o caminho de volta para a N2 e lá fomos nós em direcção ao próximo destino: o Baloiço da Pedreira. Compramos umas coisas para comer em Castro Daire e continuamos pela N2, troço bastante fácil de se fazer com curvas largas e paisagens sempre verdejantes.
O sitio do Baloiço da Pedreira é bastante engraçado para ser fazer um piquenique. Várias coisas em madeira, bancos e até camas de rede e com um baloiço com vista para o lago são ingredientes ideiais para relaxar enquanto se come qualquer coisa. Decidimos arrancar quando começou a choviscar, não bastava estar fresquinho também tinha de cair água? Pouca sorte! 
Os 120km seguintes correrem sem percalço, o troço até Góis é muito bom de se fazer. A zona a seguir a Santa Comba Dão é complicada porque a N2 funde-se com a IP3 e não sabes bem onde sair e entrar e as próprias placas podem enganar mas lá demos com a estrada após algumas paragens para verificar os mapas. Ainda podem parar para ver a Livraria do Mondego, uma formação rochosa fora do normal que se parece com livros alinhados lado a lado e aproveitar para ir a uma velocidade mais lenta para fazerem as curvas que sobem a seguir a Penacova nas calmas e disfrutar da paisagem. 
Fomos directos ao Camping de Góis, preço à maneira, tá feito. Montar as tendas, tomar um banho e
ir a pé procurar um sitio para comer. Apesar do frio e da chuva o dia foi bastante bom.



Ao terceiro dia o sol já raiava de novo, desmontamos o acampamento e fomos visitar as Fragas de Carcavelos, indo por um caminho junto á ponte de Góis. Esse caminho vai dar a uma aldeia muito pequenina onde termina a estrada, depois é necessário estacionar e entrar a pé num caminho de terra pelo meio das casas e que desce a encosta aos S's até ao rio. O sitio parece mágico, aquele rio a correr no sopé das montanhas com aquelas fragas enormes que fazem várias cascatas pequenas é mesmo digno de paraíso. Apanhamos um pouco de sol, relaxamos ao sabor do vento e do som da água e lá partimos de novo na nossa demanda.
Antes de Pedrogão Grande passamos pelo marco dos 300km e um pouco à frente estivemos em cima da Barragem do Cabril, uma das maiores e mais imponentes barragens em Portugal que provoca vertigens a qualquer um.
Compramos o almoço na Sertã e seguimos para o Centro Geodésico de Portugal, ao lado de Vila de Rei, zona esta uma das minhas preferidas em Portugal. Montanhas com o Zêzere à espreita? Não se podia pedir melhor. A vista do Centro Geodésico é incrivel. 
Da parte da tarde tivemos tempo de visitar a Cascata dos Poios, quase me sentia um Hobbit no Senhor dos Anéis. Descemos com as motas por um caminho de terra o máximo que podíamos e seguimos o resto a pé junto a uma parede de uma montanha que brotava água em alguns pontos e fomos dar com a cascata imponente mais ao fundo. 
Fomos visitar também o Passadiço do Penedo Furado e respectiva cascata. Achei a dos Poios mais interessante devido ao caminho mais "natural" até lá, o passadiço tira um pouco a piada da coisa, mas está na moda agora não é?
A praia fluvial uns metros antes tem muito bom aspecto, mas estava com algumas obras de melhorias quando fomos lá pelo que não aproveitamos muito. Como também não estava assim um calor abrasador estivemos a esticar o corpo um pouco, e voltamos à N2 para terminar o dia em Mora, no parque de campismo junto ao Fluviário com uma praia espectacular. 


O quarto dia foi o último desta saga da N2. De Mora até Faro não havia nada de específico que quiséssemos ver e ao passar o Alentejo já estava um calor abrasador pelo que parar não estava muito nos nossos planos, mais valia ir a andar e aproveitar o vento para refrescar, apesar de quente. Tiramos a foto no KM 500 e claro, no 666. Subir a Serra do Caldeirão foi algo que não ansiava e sinceramente não tirei prazer nenhum nisso, apesar de quem anda de mota dizer que é fantástico. Não sei mas não acho grande piada a subir a montanha em curvas tão fechadas que quase ia mais rápido a pé. Se calhar foi de estar cansado de ter passado o dia a conduzir, não sei, mas só queria que passasse rápido.
Em São Brás de Alportel fomos até ao Moto Clube local e fomos super bem recebidos com uma simpatia fora do normal, não nos deixaram pagar as águas que bebemos e ainda tivemos um pouco à conversa e fizeram-nos uma tour ao local.
Chegamos a Faro ao final do dia, foto ao KM 738 e fiquei feliz por ter feito esta estrada espectacular, um pouco da nossa cultura, a nossa Mother Road. 



Tenho vontade de fazer tudo de novo mas a partir de Faro e de carro com a a familia, com tenda ás costas. Também quero fazer outra versão: de moto mas em offroad! Talvez quando a minha XT estiver pronta avanço com este plano, espero que não falte muito!

Esta estrada pode ser feita em 4 dias como nós, ou muitos mais se quiserem explorar todos os cantinhos da N2. Tudo depende dos dias que quiserem gastar. Estes 4 dias foram super cheios, e por mim foi o ideal, não sou pessoa de gastar muito tempo nos sitios onde paro quando o objectivo é fazer uma roadtrip como esta, quero é sentir o motor e as curvas e ver a paisagem a passar por mim e a mudar com o passar do dia. 

Última foto no dia que voltamos para cima, no Miradouro da Fóia, para celebrar as nossas máquinas que ano após ano continuam aqui fortes, a fazer roadtrips sem parar!



Stay Fresh.


03 setembro 2021

Açores - São Miguel 2019


 2019 foi um ano que trouxe algumas mudanças a nível laboral, mas conseguimos ir a um sitio que já há muito estava na minha lista: a ilha de São Miguel nos Açores.

Aproveitei o convite que o meu grande amigo de infância Bruno me fazia sempre, ir para casa dele em Ribeira Chã e lá fomos nós para uma semana de aventura com o miúdo.

Planeei tudo antes, o que ver em cada dia, as distâncias de tudo para tentar arranjar o cenário ideal e não tornar os dias uma seca para o Dudz. 

Apanhamos o voo de manhã e chegamos perto da hora de almoço, fomos buscar o carro que tinha sido previamente alugado e paramos no Continente de Ponta Delgada para comprar umas coisas e almoçar. Como o carro estava bem estacionado aproveitamos para ir a pé até às portas da cidade, beber um café e ver as vistas. Não havia muitas pessoas e não fiquei particularmente surpreendido pela cidade ou infraestruturas que oferecia, mas verdade seja dita, não vim para São Miguel para ver cidades.


Antes de ir para casa decidimos descansar no Jardim António Borges, ver as árvores raras deixar o Dudz ver os patos. O jardim está muito bem organizado e muito bem cuidado (ouviram?? Malta que gere o Jardim Botânico de Belém), uma paragem obrigatória para descansar um pouco as pernas.

A meio da manhã do dia 2 fomos em direcção á Lagoa do Congro, água de um verde forte com árvores à volta e como estava nevoeiro dava-lhe um ar místico. Alguma chuva, um pouco fresco, mas como tínhamos que andar um pouco até soube bem. 

Decidimos seguir caminho para o Miradouro do Pico do Ferro, estava super excitado para as vistas mas... NEVOEIRO! É verdade, nevoeiro cerrado, não consegui ver nada... De vez em quando com o vento o nevoeiro dispersava um pouco e lá se via um pouco das Furnas, mas depressa voltava a ficar uma imensidão de cinzento. Decidimos descer e visitar as furnas então, visto que do alto não me safava tão depressa.

Gostei bastante das Furnas, o cenário e toda a envolvência é super apelativa, não fosse o cheiro a ovos podres (enxofre). Mais uma vez o Dudu adorou o passeio e ver os patos de um lado para o outro.

Assim que aprendemos a lidar com o cheiro (será que aprendemos?) é impossível não nos maravilharmos com as vistas e com todos aqueles buracos no chão com água a ferver. A terra vive!

Ao sair ainda passamos no jardim Caldeira das Furnas que acho tão interessante como a Lagoa das Furnas. Ok, não tem a lagoa a dar-lhe um ar mágico, mas este jardim muito bem cuidado foi construído à volta das caldeiras e das furnas no local e está muito bem conseguido. Só não aconselho ninguém a lanchar e descansar ali no jardim, conseguem imaginar porquê, não é? 


O dia 3 começou muito lento, já perto da hora de almoço. O Dudz não passou muito bem a noite, com pesadelos e estava um pouco doente da barriga (talvez das curvas ou da refeição do primeiro dia que foi numa espécie de fast-food e mesmo sem molho... é o que é) e decidimos deixá-lo dormir enquanto fui à farmácia comprar umas coisas para o ajudar. 

Fomos em direcção ao norte da ilha, para Ribeira Grande. A primeira paragem onde nos perdemos umas horas foi no Miradouro da Pedra dos Estorninhos e na Queda de Água do Salto da Farinha. O acesso não é fácil para quem leva uma mochila com o pequeno ás costas, principalmente porque se descemos também temos que subir a seguir, e ainda foram uns bons minutos a descer, portanto a subida no final foi mais complicada, mas as pernas aguentam! 

Este tipo de zonas tem sempre bons acessos pedonais, tudo marcado, bastante fácil dar com os sítios. A paisagem é sem dúvida deslumbrante.

Devido ao dia ter começado tarde e com alguns percalços com o pequeno, fomos só ver o Parque Natural da Ribeira dos Caldeirões e voltamos a casa. O parque, mais uma vez, é maravilhoso a cascata no meio faz tudo parecer mágico. Realmente em termos de beleza natural os Açores preenchem os requisitos todos.

Quarto dia foi dedicado à Lagoa das Sete Cidades, palavras para quê? É basicamente o motivo de todos irem a São Miguel e realmente não desilude. A vista tanto do Miradouro como do topo do hotel abandonado são de tirar o fôlego a qualquer um. 

Antes da Lagoa das Sete Cidades ainda fomos ao Miradouro da Lagoa do Canário e da Boca do Inferno e já dão um cheirinho do que vamos ver no Miradouro da Vista do Rei. A Lagoa do Canário é ainda mais bonita que a Lagoa do Congro. O caminho entre as árvores e ver a lagoa a aparecer é qualquer coisa tirado de um filme. 

Depois de algumas horas a explorar as vistas mais bonitas da ilha fomos até Ponta da Ferraria. Somos obrigados a deixar o carro cá em cima no estacionamento e descer uma estrada super inclinada para chegar a umas termas que estão abandonadas, mas o pessoal ainda usa a costa à volta para dar uns mergulhos, portanto não compreendo porque obrigam as pessoas a fazer este caminho todo a pé. Tentei ir à água, mas em vão, não estava quente e como o ar estava fresco, foi impossível mergulhar, fiquei-me por molhar os pés. Voltar para cima foi um bom cardio, mas realmente o sitio não vale a pena o esforço.

Ao voltarmos para casa decidimos ir pelo norte para poder passar na cascata do Salto do Cabrito e na Lagoa do Fogo, totally worth it! A cascata é linda, pena não estar sinalizado o parque de estacionamento mesmo cá em baixo. Portanto se forem lá lembrem-se que podem levar o carro até lá abaixo. A Lagoa do Fogo estava envolta em nevoeiro que lhe dava um ar místico brutal, valeu muito a pena o desvio. 


Último dia das nossas férias nos Açores começou com uma caminhada em Faial da Terra. 4,5km circular para ver a cascata Salto do Prego no meio da floresta. Estava super excitado para isto e não desiludiu em nada. A caminhada foi de curta distância pois tinha o Dudz na mochila ás costas e não queria arriscar algo muito longo, não só pelas minhas costas como por ele. Andar no meio "da selva" a subir o rio com aquele ar puro todo e aquelas paisagens, o som, o cheiro, as cores... nem sei o que dizer. É mágico e dá-nos vida. Fizemos o nosso picnic simples perto da cascata enquanto atirávamos pedrinhas para dentro de água para distrair o Dudz um pouco, mas nem era preciso distração porque ele andava maravilhado. Ao voltar para o carro ainda desce bastante num chão em pedra propício a escorregar, é preciso algum cuidado, mas as vistas são de cortar a respiração, a aldeia no fundo do vale com o mar logo á frente é qualquer coisa. 

O último destino foi a Poça da Dona Beija. Estava na dúvida se devia ir a este ou ao parque Terra Nostra, mas vi algumas pessoas a dizer que o parque Terra Nostra não tinha nada de especial para ver e que toda a envolvência da Poça da Dona Beija era incrível. E realmente é verdade que o sitio onde a Poça da Dona Beija está inserido é qualquer coisa de extraordinário. Existem balneários para deixarmos as coisas e trocar de roupa e eventualmente tomar banho no final, trocamos de roupa e lá fomos nós ver se a água era mesmo quente. Entramos numa das piscinas construídas no local à beira do braço de água que escorre montanha abaixo e acho que água a 36º se pode considerar quase uma sauna. Maravilhoso tendo em conta que estavam pouco mais de 20 no ar. Aproveitamos umas quantas horas desta água maravilhosa e fomos embora para darmos as férias por terminadas, a viagem para Portugal Continental era quase de madrugada na manhã seguinte.

As nossas férias não correram assim tão bem como planeado. O plano diário que tinha em mente teve de ser todo alterado pois o Dudu esteve um pouco doente com vómitos e má disposição então tinha de planear os dias conforme ele acordasse e tentava fazer um percurso mais simples possível e com poucas coisas para ver para não o cansar demasiado. A experiência com os locais também não foi a melhor pois tive alguns encontros desagradáveis quando percebiam que eu era do continente, chegaram a ser bastante rudes até. Mas por outro lado também tive outros maravilhosos com pessoas super simpáticas, tal como uma família em que o senhor tinha aquele sotaque açoriano super carregado e que nenhum de nós percebia e a filha como sabia que era normal o pai não ser compreendido traduzia tudo. Foi numa altura de muita chuva em que estávamos a ver um miradouro e deixaram-nos abrigar na pequena tenda de venda ambulante deles e ainda brincaram com o Dudu para o animar. São atitudes destas que nos enchem o coração e nos dão optimas memórias, vou recordá-los sempre.

Dito isto por um lado não tenho grande vontade de voltar porque não tive a melhor experiência, mas por outro quero voltar para me vingar e ver tudo o que não consegui ver e sair de lá com uma experiência mais positiva. A ver, a ver. Não estou a planear parar de viajar, portanto... vamos a isso!


Stay Fresh!




19 março 2021

Galicia Roadtrip - Agosto 2018

O que fazer quando se tem uma semana de férias em Agosto, uma mota e bons amigos? Roadtrip, fácil.

Tinha uma semana de férias sem nada para fazer, mandei mensagem a uns quantos amigos mas como já era um pouco em cima da hora apenas o João disse logo que ia pois até estava na zona de trás-os-montes, era só ir ter com ele e seguir. Uns dias de preparação do roteiro, combinar horas e vamos nessa.

Quando ia de Lisboa para Chaves reparei que tinha a mota a perder gasolina pelo tubo que sai da torneira para os carburadores mas deu para chegar a Chaves sem precalços. Almoçamos numa pizaria que gosto bastante na zona norte, fui á oficina de um amigo desmontar o deposito e dar um jeito no tubo e seguimos caminho. Ainda são 270km até ao nosso destino daquele dia, não havia tempo a perder. Pensámos em ir até Vigo e subir pela costa mas devido à visita ao mecânico decidimos seguir pelo caminho mais curto. Descobrimos a vila de Allariz à beira rio super pitoresca com uns sitios calmos para piquenique, óptimos para viagens de familia. Já sabem onde descansar quando estiverem nas redondezas. 

    Demos uma voltinha por Santiago de Compostela sem saír da mota, só para sentir a vibe da cidade. Bastante movimentada, muitos turistas mas não parece ter assim muito para ver a não ser o centro onde se encontra a catedral. Numa visita futura a ver se dou um longo passeio a pé pela zona e talvez mudar de opinião.

    Após a saída de Santiago de Compostela o tempo começou a ficar esquisito, mais frio e nublado. Que pouca sorte começar a viagem já debaixo de chuva mas nada que não esperasse desta zona da Península Ibérica. Fizemos o resto do caminho com algum frio mas a chegada perto de Finisterra não podia ter sido mais gloriosa. De repente esqueci o frio, a eminente chuva, o cansaço de 700km em cima. Andar de mota e sentir o cheiro da terra, da humidade, sentir a temperatura a mudar e começar a ver o sol e deparar-me com o seguinte cenário, não há palavras que possam descrever.


 

    Ficámos imediatamente revigorados. Fomos ver o pôr do sol ao cabo de Finisterra completamente á pinha de pessoas e caravanas, perfeitamente compreensível.

    Procurar um sitio para dormir é que foi mais complicado, na zona de Finisterra não havia nada disponível mas descobrimos um hostel em Quenxe com vista para a baía que serviu o propósito. Demos um pequeno passeio nocturno para ir jantar e vimos uma festa que estava a acontecer ainda a 1 ou 2 km de onde estavamos mas depois de quase 800km de mota num dia não estava para aí virado.

    Obtivemos a informação que relativamente perto, em Ézaro, havia a única cascata no mundo que cai no oceano. Super curiosos lá fomos nós bem cedo à procura do sitio mas foi uma valente desilusão. Apesar de ser uma cascata alta e bonita o curso de água cai num pequeno estuário. Na minha cabeça era directo no Oceano. Valeram a vistas do miradouro de qualquer maneira.

Seguimos caminho a um ritmo médio para apreciar as vistas e a estrada nacional e demos por nós na cidade de Corunha. A zona da torre de Hércules é bonita mas não tinhamos assim nada em concreto para ver então continuamos viagem que o tempo estava optimo para rolar e o calor a isso convidava.

O resto do dia continuou sendo uma viagem bastante calma com paisagens de montanha excelentes de curva e contra-curva perfeitas para as motas. Chegamos perto do final do dia a Viveiro, uma pequena cidade na costa que conheci devido ao festival Resurrection Fest em 2008 ou 2009 ao qual já fui algumas vezes. Ficamos no parque de campismo e como chegamos cedo demos uma volta a pé pelo centro da cidade calmamente, comer gelados e beber algo fresco até hora de jantar. Mais um gelado, uma voltinha pela praia e toca de dormir no nosso T0 quase à beira-mar.


 
 
    Mesmo estando numa tenda não acordamos muito cedo, mas tambem não tinhamos pressa apesar dos 350km que tinhamos pela frente para chegar ao nosso destino final em Espanha: Picos da Europa. Fomos pela nacional sempre o mais junto à costa possível com mar de um lado e montanhas do outro. Gostei bastante de passar em Ribadeo, a zona da ría é um eye-candy brutal em que se vê a foz e o oceano de um lado e as montanhas do outro, sem reboliço, sem barulho, o tempo não anda, só desliza levemente.
Almoço tarde nesse dia e a próxima paragem foi Gijón, sitio que não me impressionou em nada. Cidade algo confusa, muito barulhenta, muita confusão de pessoas. Talvez por ser Agosto? Turistas? Não sei, mas não só havia esta confusão constante como não me senti minimamente seguro mal parei a mota. Não aconteceu nada, nao vi nada, mas sabem quando não estão confortáveis com alguma coisa e nem sabem porquê? Foi o suficiente para ver um bocadinho da praia de San Lorenzo e da catedral de São Pedro, refrescar a boca e ir embora de seguida. Sempre ouvi dizer para não ignorar o nosso sexto sentido.



    Começar a ver os Picos da Europa ao longe é épico. Entramos na zona dos Picos ao final da tarde, a estrada a serpentear montanha acima e nós parecíamos duas crianças a ver a paisagem e a conduzir nas curvas como se estivessemos numa nave.
Como era tarde fomos directos até ao El Redondo Camping em Fuente Dé, no topo dos Picos para montar a tenda e descansar. A ideia era acordar cedo na manhã seguinte e dar umas voltas pela zona, fazer umas Vias-Ferratas ou ZipLines. O João disse-me que o nascer do sol faz com que pareça que as montanhas fiquem cor de rosa, que era bastante giro e então apontamos acordar nessa altura.




    Bem, não precisei de despertador para acordar e não, não era porque estava excitado pelo dia seguinte. Não dormi nada. Em pleno Agosto com temperaturas optimas e bastante sol durante o dia digamos que pensei que ia dormir na boa, mas não podia estar mais enganado. As temperaturas durante a noite baixaram até os 5 ou 6 graus e eu não estava minimamento preparado para isso. Dormi com o máximo de roupa que consegui completamente enrolado e mesmo assim passei tanto frio que não preguei olho. Ás 5 e tal da manhã levantei-me e fui dar uma volta pelo parque de campismo a ver se aquecia. Vi o nascer do sol a bater no topo do Pico, que realmente vale a pena e conforme podem ver na foto aqui em cima o céu estava limpo... bem, estava! assim que voltei para a tenda começou a ficar tudo nublado e verifiquei no telemóvel que o tempo ia estar chuvoso nesse e no próximo dia e com temperaturas baixas. Lá se foram os nossos planos de passear pelo parque. 
Tomamos o pequeno almoço, uma dose generosa de café e fomos desmontar as tendas. Meti a mota a trabalhar para ir aquecendo e uma pessoa que estava ao meu lado começa a apontar para a minha mota e a dizer para ter atenção. Não é que o tubo da gasolina fez das suas e voltou a rasgar? Que raio de sorte a minha.
Desliguei a mota e felizmente nestas viagens ando sempre com algumas ferramentas comigo. Desmontei o deposito, cortei o tubo e fiz o típico arranjo tuga do desenrasque e lá ficou a funcionar. Fomos em direcção a Potes beber outro cafézinho e ver se realmente o tempo abria, mas estava a começar a pingar pelo que decidimos ir embora com muita pena. 


    Saír dos Picos foi maravilhoso, a estrada do lado sul é ainda mais fantástica que aquela por onde entramos. Estava frio mas como iamos devagar devido ás curvas apertadas fez-se bastante bem e ainda deu para tirar umas fotos engraçadas. A meio da descida apanhamos uma acidente, algumas motas a subir disseram para irmos devagar e o que vi deixou-me bastante incomodado durante várias horas. Estavam algumas ambulâncias, uma mota caída sem marcas de travagem e o condutor da mota no chão a receber massagem cardíaca no meio do alvoroço dos enfermeiros. Foi um choque ver aquilo ao vivo, não me parece ter sido um acidente pois não havia destroços, a pessoa deve ter-se sentido mal mas ver a pessoa com a vida a fugir-lhe do corpo foi algo que me deixou nervoso durante horas e inevitavelmente faznos pensar na nossa vida e no quão frágil é tudo. 

 
     No final dos Picos da Europa acontece daquelas coisas que só quem anda de mota sente. Passou de estar cerca de 10 a 12 graus para uns 30 e que mais tarde perto de Portugal se tornaram em quase 40. Lembrei-me logo que estavamos em Agosto. A primeira paragem a seguir aos Picos foi Riaño, uma vila ou aldeia com cerca de 600 habitantes mas com vistas sobre um lago enorme rodeado de montanhas. Claro que ficamos um pouco pela zona e aproveitamos para almoçar e apanhar um pouco de sol.
A ideia era ir dormir à aldeia dos meus pais já perto de Chaves pelo que tivemos de seguir caminho e não queriamos chegar de noite, ainda queria ir a umas cascatas na fronteira com Espanha.
O resto da viagem correu bem, sem precalços e debaixo de um calor abrasador e ao chegar perto de Verín viramos para uma estrada secundária em direcção à fronteira Portuguesa já mais perto do Parque Natural de Montesinho e fomos dar a umas cascatas que descobri há uns anos atrás enquanto fazia geocaching naquela zona. Existe um caminho pedestre chamado Rota do Contrabando que passa por essas cascatas e que vale muito a pena fazer. 
Demos uns mergulhos e lá fomos nós terminar esta nossa viagem de 1750km em Lebução, Valpaços.


Se quero voltar? Sem dúvida. Principalmente aos Picos da Europa mas com a familia e de carro para poder fazer alguns dos caminhos fora de estrada. Acho que esta zona não é muito explorada pelos portugueses e devia. Desde a Costa da Morte até aos Picos as estradas são optimas e existem tantos sitios para visitar que nem sei por onde começar. Mas vão! Apenas vão!
 

 
Stay fresh.