19 março 2021

Galicia Roadtrip - Agosto 2018

O que fazer quando se tem uma semana de férias em Agosto, uma mota e bons amigos? Roadtrip, fácil.

Tinha uma semana de férias sem nada para fazer, mandei mensagem a uns quantos amigos mas como já era um pouco em cima da hora apenas o João disse logo que ia pois até estava na zona de trás-os-montes, era só ir ter com ele e seguir. Uns dias de preparação do roteiro, combinar horas e vamos nessa.

Quando ia de Lisboa para Chaves reparei que tinha a mota a perder gasolina pelo tubo que sai da torneira para os carburadores mas deu para chegar a Chaves sem precalços. Almoçamos numa pizaria que gosto bastante na zona norte, fui á oficina de um amigo desmontar o deposito e dar um jeito no tubo e seguimos caminho. Ainda são 270km até ao nosso destino daquele dia, não havia tempo a perder. Pensámos em ir até Vigo e subir pela costa mas devido à visita ao mecânico decidimos seguir pelo caminho mais curto. Descobrimos a vila de Allariz à beira rio super pitoresca com uns sitios calmos para piquenique, óptimos para viagens de familia. Já sabem onde descansar quando estiverem nas redondezas. 

    Demos uma voltinha por Santiago de Compostela sem saír da mota, só para sentir a vibe da cidade. Bastante movimentada, muitos turistas mas não parece ter assim muito para ver a não ser o centro onde se encontra a catedral. Numa visita futura a ver se dou um longo passeio a pé pela zona e talvez mudar de opinião.

    Após a saída de Santiago de Compostela o tempo começou a ficar esquisito, mais frio e nublado. Que pouca sorte começar a viagem já debaixo de chuva mas nada que não esperasse desta zona da Península Ibérica. Fizemos o resto do caminho com algum frio mas a chegada perto de Finisterra não podia ter sido mais gloriosa. De repente esqueci o frio, a eminente chuva, o cansaço de 700km em cima. Andar de mota e sentir o cheiro da terra, da humidade, sentir a temperatura a mudar e começar a ver o sol e deparar-me com o seguinte cenário, não há palavras que possam descrever.


 

    Ficámos imediatamente revigorados. Fomos ver o pôr do sol ao cabo de Finisterra completamente á pinha de pessoas e caravanas, perfeitamente compreensível.

    Procurar um sitio para dormir é que foi mais complicado, na zona de Finisterra não havia nada disponível mas descobrimos um hostel em Quenxe com vista para a baía que serviu o propósito. Demos um pequeno passeio nocturno para ir jantar e vimos uma festa que estava a acontecer ainda a 1 ou 2 km de onde estavamos mas depois de quase 800km de mota num dia não estava para aí virado.

    Obtivemos a informação que relativamente perto, em Ézaro, havia a única cascata no mundo que cai no oceano. Super curiosos lá fomos nós bem cedo à procura do sitio mas foi uma valente desilusão. Apesar de ser uma cascata alta e bonita o curso de água cai num pequeno estuário. Na minha cabeça era directo no Oceano. Valeram a vistas do miradouro de qualquer maneira.

Seguimos caminho a um ritmo médio para apreciar as vistas e a estrada nacional e demos por nós na cidade de Corunha. A zona da torre de Hércules é bonita mas não tinhamos assim nada em concreto para ver então continuamos viagem que o tempo estava optimo para rolar e o calor a isso convidava.

O resto do dia continuou sendo uma viagem bastante calma com paisagens de montanha excelentes de curva e contra-curva perfeitas para as motas. Chegamos perto do final do dia a Viveiro, uma pequena cidade na costa que conheci devido ao festival Resurrection Fest em 2008 ou 2009 ao qual já fui algumas vezes. Ficamos no parque de campismo e como chegamos cedo demos uma volta a pé pelo centro da cidade calmamente, comer gelados e beber algo fresco até hora de jantar. Mais um gelado, uma voltinha pela praia e toca de dormir no nosso T0 quase à beira-mar.


 
 
    Mesmo estando numa tenda não acordamos muito cedo, mas tambem não tinhamos pressa apesar dos 350km que tinhamos pela frente para chegar ao nosso destino final em Espanha: Picos da Europa. Fomos pela nacional sempre o mais junto à costa possível com mar de um lado e montanhas do outro. Gostei bastante de passar em Ribadeo, a zona da ría é um eye-candy brutal em que se vê a foz e o oceano de um lado e as montanhas do outro, sem reboliço, sem barulho, o tempo não anda, só desliza levemente.
Almoço tarde nesse dia e a próxima paragem foi Gijón, sitio que não me impressionou em nada. Cidade algo confusa, muito barulhenta, muita confusão de pessoas. Talvez por ser Agosto? Turistas? Não sei, mas não só havia esta confusão constante como não me senti minimamente seguro mal parei a mota. Não aconteceu nada, nao vi nada, mas sabem quando não estão confortáveis com alguma coisa e nem sabem porquê? Foi o suficiente para ver um bocadinho da praia de San Lorenzo e da catedral de São Pedro, refrescar a boca e ir embora de seguida. Sempre ouvi dizer para não ignorar o nosso sexto sentido.



    Começar a ver os Picos da Europa ao longe é épico. Entramos na zona dos Picos ao final da tarde, a estrada a serpentear montanha acima e nós parecíamos duas crianças a ver a paisagem e a conduzir nas curvas como se estivessemos numa nave.
Como era tarde fomos directos até ao El Redondo Camping em Fuente Dé, no topo dos Picos para montar a tenda e descansar. A ideia era acordar cedo na manhã seguinte e dar umas voltas pela zona, fazer umas Vias-Ferratas ou ZipLines. O João disse-me que o nascer do sol faz com que pareça que as montanhas fiquem cor de rosa, que era bastante giro e então apontamos acordar nessa altura.




    Bem, não precisei de despertador para acordar e não, não era porque estava excitado pelo dia seguinte. Não dormi nada. Em pleno Agosto com temperaturas optimas e bastante sol durante o dia digamos que pensei que ia dormir na boa, mas não podia estar mais enganado. As temperaturas durante a noite baixaram até os 5 ou 6 graus e eu não estava minimamento preparado para isso. Dormi com o máximo de roupa que consegui completamente enrolado e mesmo assim passei tanto frio que não preguei olho. Ás 5 e tal da manhã levantei-me e fui dar uma volta pelo parque de campismo a ver se aquecia. Vi o nascer do sol a bater no topo do Pico, que realmente vale a pena e conforme podem ver na foto aqui em cima o céu estava limpo... bem, estava! assim que voltei para a tenda começou a ficar tudo nublado e verifiquei no telemóvel que o tempo ia estar chuvoso nesse e no próximo dia e com temperaturas baixas. Lá se foram os nossos planos de passear pelo parque. 
Tomamos o pequeno almoço, uma dose generosa de café e fomos desmontar as tendas. Meti a mota a trabalhar para ir aquecendo e uma pessoa que estava ao meu lado começa a apontar para a minha mota e a dizer para ter atenção. Não é que o tubo da gasolina fez das suas e voltou a rasgar? Que raio de sorte a minha.
Desliguei a mota e felizmente nestas viagens ando sempre com algumas ferramentas comigo. Desmontei o deposito, cortei o tubo e fiz o típico arranjo tuga do desenrasque e lá ficou a funcionar. Fomos em direcção a Potes beber outro cafézinho e ver se realmente o tempo abria, mas estava a começar a pingar pelo que decidimos ir embora com muita pena. 


    Saír dos Picos foi maravilhoso, a estrada do lado sul é ainda mais fantástica que aquela por onde entramos. Estava frio mas como iamos devagar devido ás curvas apertadas fez-se bastante bem e ainda deu para tirar umas fotos engraçadas. A meio da descida apanhamos uma acidente, algumas motas a subir disseram para irmos devagar e o que vi deixou-me bastante incomodado durante várias horas. Estavam algumas ambulâncias, uma mota caída sem marcas de travagem e o condutor da mota no chão a receber massagem cardíaca no meio do alvoroço dos enfermeiros. Foi um choque ver aquilo ao vivo, não me parece ter sido um acidente pois não havia destroços, a pessoa deve ter-se sentido mal mas ver a pessoa com a vida a fugir-lhe do corpo foi algo que me deixou nervoso durante horas e inevitavelmente faznos pensar na nossa vida e no quão frágil é tudo. 

 
     No final dos Picos da Europa acontece daquelas coisas que só quem anda de mota sente. Passou de estar cerca de 10 a 12 graus para uns 30 e que mais tarde perto de Portugal se tornaram em quase 40. Lembrei-me logo que estavamos em Agosto. A primeira paragem a seguir aos Picos foi Riaño, uma vila ou aldeia com cerca de 600 habitantes mas com vistas sobre um lago enorme rodeado de montanhas. Claro que ficamos um pouco pela zona e aproveitamos para almoçar e apanhar um pouco de sol.
A ideia era ir dormir à aldeia dos meus pais já perto de Chaves pelo que tivemos de seguir caminho e não queriamos chegar de noite, ainda queria ir a umas cascatas na fronteira com Espanha.
O resto da viagem correu bem, sem precalços e debaixo de um calor abrasador e ao chegar perto de Verín viramos para uma estrada secundária em direcção à fronteira Portuguesa já mais perto do Parque Natural de Montesinho e fomos dar a umas cascatas que descobri há uns anos atrás enquanto fazia geocaching naquela zona. Existe um caminho pedestre chamado Rota do Contrabando que passa por essas cascatas e que vale muito a pena fazer. 
Demos uns mergulhos e lá fomos nós terminar esta nossa viagem de 1750km em Lebução, Valpaços.


Se quero voltar? Sem dúvida. Principalmente aos Picos da Europa mas com a familia e de carro para poder fazer alguns dos caminhos fora de estrada. Acho que esta zona não é muito explorada pelos portugueses e devia. Desde a Costa da Morte até aos Picos as estradas são optimas e existem tantos sitios para visitar que nem sei por onde começar. Mas vão! Apenas vão!
 

 
Stay fresh.

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