Início de 2016 recebi um convite de casamento a realizar na Roménia, do meu
grande amigo André que tocava bateria em Never Fail. Estive umas horas em
Bucareste há uns anos quando fui para a Turquia (podem ler sobre isso aqui) e como até gostei da parte velha
da cidade decidi explorar o país um bocadinho para ver o que tinha para me
oferecer, já que não conhecia ninguém que lá tivesse ido passar férias.
Que país! Montanhas, castelos, uma das mais bonitas estradas do mundo,
desfiladeiros, ursos, o Drácula, bem... É melhor relaxarem, leiam este relato e
aproveitem para ver o preço dos voos para a Roménia e passem as próximas férias
lá.
Combinei com o meu amigo Sebastian, agarrei na Raquel e lá fomos nós em
direcção ao desconhecido. Andei semanas a ver sites como o
Wikitravel/Wikivoyage e qualquer blog ou fórum que falasse sobre a Roménia para
tirar ideias de sítios a visitar. Olhando para o Google Maps fiz um roteiro que
fosse possível fazer em 4 dias e fui procurar um sítio para alugar um carro.
Encontrei a Cars4Rent e paguei 96€ por 4 dias em que estava incluído 20€ de
seguro contra todos por um Dacia Logan com uns anos. Perfeito! Ainda me
disseram que podia mandar o carro contra uma árvore que não pagava mais nada, o
seguro cobria. Fiquei tentado, sou sincero!
Apanhamos o voo no sábado dia 10/09 á noite e chegamos á Roménia já era bem
tarde. Fomos para casa do André onde ficamos duas noites pois no dia a seguir
íamos passar o dia com eles e com a respectiva família. Faltava uma semana para
o casamento e era uma pequena celebração do acontecimento. Tivemos um domingo
super agradável numa zona mais rural fora de Bucareste, voltamos para jantar e
dar uma voltinha a pé. A cidade tem uma arquitectura que mistura o neoclássico
e algum art-déco, em que se nota também muita influência comunista na
construção e disposição dos edifícios devido á reconstrução da cidade entre as
duas grandes guerras.
Dormimos bem e apanhamos um Uber para o aeroporto.
Andar de Uber em Bucareste é brutal, uma viagem de 20km, 43 minutos custa 7.5€.
Portanto, se estiverem na cidade e quiserem ir para qualquer lado, apanhem um
Uber! Bem mais simples e eficaz.
Fomos ao aeroporto para ir buscar o carro e ir ter com o Sebastian que
chegava nesse momento. Pusemos as mochilas no carro e siga caminho, destino:
Castelo do Drácula, o original. Apanhamos a auto-estrada e em Pitesti
saímos para a Transfagarasan, considerada pelo Top Gear uma das melhores
estradas do mundo para se conduzir. A paisagem é verdejante e com montanhas em
toda a volta, apesar de o melhor ainda estar para vir, a paisagem no início
desta viagem já era muito boa. Estacionei junto á entrada do castelo do Drácula
mas realmente já passava das 17h e já estava a fechar, não valia a pena subir.
Em relação a este castelo, este é o verdadeiro castelo onde Vlad Tepes (Vlad the Impaler ou Drácula) viveu, e
não o de Bran. Nos tours que se fazem pela Roménia e se forem a Bran, dizem que
o castelo de Bran é o castelo do Drácula, mas é apenas porque foi onde Bram
Stocker se baseou e inspirou para escrever o livro Drácula.
Ao lado havia uma pensão/hotel bastante engraçada e fomos perguntar o
preço para um quarto triplo e quando esperava que me dissessem que ia ser um
balúrdio visto estar numa zona turística, eis que fiquei surpreendido quando o
valor dava 25 euros no total para 3 pessoas. Óbvio que foi logo aceite. A
comida era estranha mas foi bastante barato, não sei precisar o valor mas foi á
volta dos 4 ou 5 euros por pessoa e tinha sobremesas e bebidas e tudo o que
tínhamos direito.
Neste final de dia aconteceu um episódio caricato. Demos uma volta a pé pela
estrada, para descer junto ao rio que havia um pouco mais baixo que a estrada,
com mesas e bancos para piqueniques, quando na estrada apareceu uma matilha de
cães que não sendo agressivos, não se calavam e quase andavam á bulha uns com
os outros. Todos os sites que falavam sobre a Roménia diziam para ter cuidado
com este tipo de cães pois podiam tornar-se violentos, então estava assim meio
apreensivo mas enquanto eles estavam a ladrar uns para os outros mandei um
berro para se calarem e não é que resultou? A partir daí vieram atrás de nós como
se nada fosse. Houve uma altura até que eles desceram para junto do rio e ao
irmos embora junto á estrada estavam dois cães a olhar para nós lá de baixo e
eu disse: bora! E não é que subiram o monte de pedra e lama e vieram connosco?
Surreal! Só isto valeu aquele final de dia, senti-me um pequeno Cesar Milan!
Terça-feira, dia 13/09 acordamos cedo para sermos os primeiros a entrar no
castelo e subir aqueles 1400 degraus da morte e qual era a nossa companhia?
Isso mesmo, os cães do dia anterior! Iam sempre junto a nós como se nos
estivessem a proteger. O castelo está em ruínas e tem uns quantos bonecos
empalados da parte de fora que dá um ambiente bué engraçado á cena toda. A
vista é do outro mundo e estar ali em cima, a ouvir o vento a bater nas árvores
e a imaginar o que terá sido a guerra do Príncipe da Valáquia contra os
invasores Turcos é bastante especial.
1400 degraus depois e estávamos cá em baixo prontos para arrancar. Dissemos
adeus aos canitos e seguimos viagem rumo ao topo da montanha com paisagens
deslumbrantes mas nada me preparou para o que vinha ao passar o túnel
Balea-Capra. Um lago no topo da montanha que reflectia tudo o que estava por
cima com nuvens coladas a nós e rodeados de verde e mais verde, era algo
possível apenas no nosso imaginário, nunca pensei que a Roménia fosse assim!
Foi aí também que descobrimos o Trdelnik, um doce Romeno em que a massa é
enrolada num espeto de madeira para assar e depois polvilhada com açúcar e
canela ou nozes, que vício! Almoçamos no local e bebemos um cafezinho com vista
para o lago, explorar o sítio a pé e seguimos caminho bem devagar para ver a
tal estrada maravilha a serpentear montanha fora num cenário digno apenas de
filme.
Fomos montanha abaixo e passamos pela Roménia rural, nada de auto-estradas,
apenas estradas nacionais e bombas de gasolina no meio do nada. Nesta altura
devem estar a perguntar-se: então mas a Roménia é tourist-friendly? Totally!
Mesmo nos sítios mais remotos onde ninguém falava outra língua que não Romeno
era tudo muito simpático e sempre a tentarem ajudar com o que pudessem e muito
prestáveis. Portanto mesmo quando ninguém percebia nada, os gestos ajudam e
também uma app chamada: Google Translate. Fazem download da língua previamente
e depois com a ajuda da câmera em cima do texto a app faz a tradução na hora em
cima do que está escrito! Acreditem que dá mesmo muito jeito!
Já chegamos tarde ao nosso próximo destino, a condução fazia-se bem e a
paisagem ajudava então chegamos de noite ao Desfiladeiro de Bicaz e mesmo de
noite deu para ver a magnitude do local e não queria acreditar que estava
perante algo ainda mais bonito do que o Desfiladeiro de Toudgha como descrevi
no post anterior sobre a minha viagem a Marrocos (podem ler sobre isso aqui). Conduzi durante km á procura de
um sítio para dormir, o que estava difícil naquela zona, mas lá demos com uma
espécie de parque de campismo com bungalows e um senhor que falava um francês compreensível
o suficiente para nos dizer que um bungalow para 3 pessoas também era cerca de
20 ou 25€. Fomos jantar qualquer coisa no único sítio que estava aberto aquela
hora, já passava das 23h, um bocado chunga e a comida era manhosa mas pelo
preço, tudo de bom! Acho que nem 5€/pessoa gastamos!
O dia seguinte começou bastante cedo e fomos logo em direcção ao
desfiladeiro, fizemos a estrada do desfiladeiro umas 3 ou 4 vezes. Que sítio
brutal, montanhas enormes a ladear a estrada com muito verde á mistura.
Roménia, assim não vai dar, estás a deixar-me mal habituado! Exploramos um
bocado do local e seguimos caminho em direcção a Brasov. Almoçamos na cidade
de Baile Tusnad, numa pizzaria junto ao rio com umas pizzas mesmo muito
boas e com as montanhas verdejantes em frente.
Passamos a cidade de Brasov e fomos directos para o castelo de Bran. De repente
reparamos que deixamos a Roménia esquecida e rural e estamos no meio do turismo
desenfreado. Multidões de pessoas a subir e a descer a falarem várias línguas
diferentes. Ainda encontramos o André e a família dele que por coincidência
também foram ao castelo naquele dia, compramos os bilhetes e fomos dar uma
volta no interior, ver as exposições e ler os textos que estavam nas várias
salas com um pouco da história, não só do castelo ou da zona, mas também sobre
Vlad Tepes ou outras personagens importantes da história Romena.
Quando saímos do castelo no final do dia fomos lanchar e procurei um hotel
no Booking.com e não é que achamos um mesmo á saída da cidade em que cada
quarto custava 12€? Marcamos dois quartos duplos claro, livin large! O hotel
era o Optim e era bastante pitoresco, e mais uma vez e para não destoar, tinha
uma vista para as montanhas que era um abuso. As varandas em madeira serviram
para um final de tarde tranquilizante a ver a paisagem. Fomos jantar perto do
castelo, sendo um sítio turístico claro que já não era muito barato mas mesmo
assim não foi nada de mais e comemos muito bem.
Estava super ansioso para o dia seguinte, tivemos de
acordar cedo para ir ao Santuário dos Ursos que ficava a poucos km mas aceitam
poucas pessoas por dia, então para não perdermos o lugar fomos quase uma hora
antes de abrir para o local e entramos no primeiro ou segundo grupo. Fiquei
super feliz por saber que existem sítios como este, pequenos santuários que
ajudam ursos que estavam em cativeiro e que foram maltratados e em que muitos
deles ficaram com mazelas psicológicas e não podem de todo ser reintroduzidos
na vida selvagem. Não só ursos mas tinha um ou outro animal diferente, mas era
maioritariamente para ursos, com condições brutais. Não é de todo um zoo, não é
de todo um espectáculo. É apenas um santuário enorme que ajuda estes animais
que tanto precisavam de voltar a ser felizes e para sobreviver não só conta com
a ajuda do estado como de pessoas como nós que vão visitar o local e paga o
bilhete e compra souvenirs para eles poderem ter boas condições de vida. Se
conseguirem ver os ursos perfeito, se por acaso eles tiverem todos escondidos,
não há ursos para ninguém. Mas normalmente eles andam pelo local e podemos
vê-los a tomar banho e a descansar ao sol e é maravilhoso ver estes animais
majestosos tão perto de nós com apenas uma rede á nossa frente. Temos os guias
que explicam tudo sobre o local e respondem a todas as perguntas e falam um
pouco sobre cada urso. Saí do local de coração cheio devo dizê-lo.
Fomos almoçar
a Brasov, talvez a segunda cidade mais conhecida da Roménia a seguir a
Bucareste, que tem a famosa Igreja Negra, a principal igreja gótica do país e
toda uma arquitectura típica da zona da Transilvânia. Demos uma volta pelo
centro e seguimos para o sítio que eu tanto queria ir: Canionul Sapte Scari, ou
em português: o Desfiladeiro das Sete Escadas. Now, this is what I live for!
Estacionas o carro e andas cerca de uma hora a uma hora e meia no meio da
floresta até um desfiladeiro com um curso de água e escadas em ferro para
subir, e só estando lá para ver! Que vistas, que caminhada brutal, sempre a
subir junto ao pequeno curso de água no meio da montanha e entre pedras
enormes. Para completar este dia, ao sair do desfiladeiro reparamos que havia
uma barraquinha
a alugar arnês para usar nas ziplines que iam desde aquele ponto até á entrada
do parque. WOW! Claro que não pensamos duas vezes! Foi mais de uma hora a
descer de zipline em zipline, de árvore em árvore. Que loucura (link para o
video da zipline aqui no meu IG)! Ao chegar á entrada do parque estavam os dois
monitores que recebem o arnês de volta a olhar para as árvores intrigados e por
piada perguntei o que se passava ao que eles respondem na boa e relaxados: ah,
nada de mais, é apenas um urso que anda por ali, ontem passou aqui por volta
desta hora a correr. Pah oh bacano, COMO ASSIM UM URSO? Infelizmente não o
vimos, ou felizmente... Nem sei! Os encontros com ursos castanhos podem ser
problemáticos embora eles tenham medo de barulho e regra geral não atacam
pessoas, mas nunca se sabe! Digamos que fomos para o carro sempre a olhar por
cima do ombro não fossemos ver o tal urso a correr na nossa direcção, mas não
aconteceu.
Seguimos em direcção a Bucareste, nas calmas. Tínhamos noite marcada no Ibis
pelo André que nos ofereceu duas noites devido ao casamento dele então podíamos
ir com tempo. Ainda demos uma volta a pé pela cidade, junto ao Parlamento,
fomos á Old Town e voltamos.
No dia seguinte fui deixar o Sebastian ao aeroporto e entregar o carro.
Fomos para o centro para conhecer a zona velha da cidade que é bastante
agradável com igrejas bonitas e menções a Vlad Tepes em todo o lado. Fomos cedo
para o hotel para descansar e ir jantar pois á noite havia uma pequena festa
com o André visto o casamento ser no dia a seguir. E bom, o resto é história,
um belo casamento Romeno na Nova Igreja de Saint Spyridon. Nunca tinha visto
uma cerimónia ortodoxa e foi uma boa surpresa.
No domingo de manhã era hora de ir embora, apanhamos o avião para Portugal
com uma escala em Roma de 6 horas e decidimos ir até ao centro dar uma volta.
Não vimos nada em particular, basicamente andamos a pé as quase 4 horas que
tínhamos disponíveis e passamos pelos pontos principais da cidade, fomos de
Termini para o Coliseu passando pela Fontada di Trevi e Praça de Veneza.
Apanhar o metro no Coliseu, comer pizza á fatia e sair no Vaticano e ir em
direcção ao Largo da Torre Argentina passando pelo Castel Sant'Angelo, Piazza
Navona e Panteão. Entramos num Uber (bem caro, não aconselho) e fomos de volta
para o aeroporto. Hora de voltar a casa.
O que tiro desta viagem? A vontade imensa de voltar a viajar mas para sítios
sem referência nenhuma pois pelos vistos são os que mais surpresas nos trazem.
Pensei que não ia ver paisagens e estradas e sítios mais brutais que Marrocos e
afinal a Roménia enganou-me redondamente e só vi um bocadinho ali no centro.
Quero voltar, descobri que existe uma mina de sal tão grande que tem uma ferris
wheel lá dentro, portanto a Roménia não para de me surpreender. E a paragem em
Roma apesar de rápida foi muito relaxante, mesmo caminhando quase 4 horas de
mochila às costas. Há um dizer que é: não voltes aos sítios onde já foste
feliz. Bem, eu voltei e vim de lá mais feliz que nunca. Não liguem a tudo o que
ouvem, sejam dizeres sejam certas dicas sobre os sítios que querem ou têm
curiosidade em visitar. ;)
Stay Fresh.
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