31 outubro 2022

Sul de Espanha Roadtrip - Verão 2021

Verão de 2021, quase pós-pandemia e sedento de viagens e férias a sério. Tínhamos duas semanas para nós e eu queria fazer algo fora do normal. Após uns largos dias de deliberação e discussão e sítios para ir consegui delinear um plano engraçado: juntar o prazer de conduzir e acampar num só num dos meus países preferidos: Espanha.
E que raio tem Espanha de especial? Bem... as paisagens são qualquer coisa de especial com o verdejante e montanhoso norte, aridez e deserto a sul, as cordilheiras junto a Madrid, outro deserto junto a Barcelona, os Pirenéus, os Picos da Europa, as cidades com história milenar tudo bem preservado... bem, acho que já perceberam a ideia. É daqueles países que podemos passar semanas a fio a viajar de um lado para o outro e fica sempre algo para ver.
Não vale a pena dissertar mais sobre Espanha (para além de ser um destino perto e acessível), sentem-se confortáveis, peguem nos vossos biscoitos e bebidas favoritos e juntem-se a mim.

Dia 1- saímos bem cedo de casa em direcção a Arcos de La Frontera, a ideia seria almoçar por lá. A viagem decorreu sem percalços e chegamos a Arcos dentro da hora definida. É a cidade considerada como a porta de entrada para os Pueblos Blancos, uma rota turística bastante conhecida nesta zona, contruída no topo de um penhasco e com vistas incríveis. Após uma volta curta de carro pela cidade encostamos num parque e fizemos um picnic para repor energia. O nosso destino nesse dia seria Ronda pelo que ainda deu tempo de estacionar o carro e fazer uma pequena caminhada junto ao rio para ver a cidade de cá de baixo no topo do imponente penhasco. 

Cerca de 84km separam Arcos de Ronda, foi um trajecto feito relativamente rápido. O destino em Ronda era o parque de campismo mais próximo do centro, cerca de 2.5km da famosa Puente Nuevo. O parque não é assim o mais barato, mas tem bastante qualidade e tem uma piscina optima que ainda conseguimos aproveitar no final do dia para nos refrescarmos pois estava bastante calor ou não fosse meio de Agosto.

Após o jantar decidimos dar uma volta a pé e ver a tão famosa Puente Nuevo, construída no século XVIII com uma altura impressionante de 98 metros, mais parece algo saído do Game of Thrones ou Lord of the Rings e mesmo de noite tira-nos o fôlego.

A volta para o parque já foi por volta da meia-noite, estávamos de rastos depois de ter acordado tão cedo o meu miúdo já ia a dormir na mochila Baby-Carrier há muito, 20kg às minhas costas durante quase 3km (perto de 6 no total). Suado e cansado, mas mais feliz era impossível!

 

 Dia 2- Zahara de la Frontera é um dos Pueblos Blancos mais conhecidos e que mais me chamava a atenção por dois motivos: as vistas incríveis do topo do castelo e uma zona balnear para refrescarmos neste Agosto super quente. Ambos corresponderam à expectativa sem sombra de dúvidas. Zahara tem uma vista linda sobre o rio que serpenteia pelo vale ladeado de montanhas. Deu para fazer um picnic debaixo de uma estrutura que fazia sombra, fui ver as vistas e tirar umas fotos do miradouro e decidimos não ir ao castelo porque o calor era quase insuportável, não queria arriscar ter que subir a pé sem sombra debaixo de mais de 40 graus. Fomos então para a tão esperada Playita de Arroyo de Molinos mesmo ao lado de Zahara.

A playita é um sítio fechado e pago em que aproveitaram o leito de um rio e construíram uma espécie de lago/piscina e é maravilhoso! Tem WC, bares e algumas actividades para os mais pequenos como rapel. Apesar de ter bastantes pessoas conseguia estar-se à vontade e foi optimo para passarmos umas horas a refrescar. 

No final do dia ainda fomos visitar a Cueva del Gato, um sítio no meio da floresta com um pequeno trilho que nos levou a uma piscina natural de água bem gelada e uma gruta que estava em obras na qual não podemos entrar, mas que abriga morcegos. Fiquei com pena de não poder ver os morcegos, mas a zona envolvente era bastante bonita e para quem gosta de se banhar em água bem fresca é a zona ideal. Eu dispenso, liguem o esquentador sff.

 

Dia 3- O dia começou cedo pois tinha uns planos interessantes para concretizar. Fomos em direcção a Antequera e a primeira paragem foram os Dolmens de Antequera, um sítio arqueológico e património mundial da Unesco. Estivemos uns largos minutos ao sol para entrar nos Dolmens, com o Covid ainda a pairar sobre nós não podia estar muita gente ao mesmo tempo dentro das grutas pelo que a visita foi mais prolongada do que eu estava à espera mas não foi menos espectacular. Entrar dentro destes Dolmens milenares é bastante especial por si só. 

Finda a visita fomos para El Torcal, um parque natural montanhoso com formações rochosas fora do normal devido a estar submerso durante vários milhões de anos e com vestígios de fosseis marinhos. Chegamos perto da hora do almoço e decidimos mais uma vez fazer um picnic ao lado do estacionamento do parque no topo da montanha. Andávamos sempre com o fogão a gás atrás e com a geleira com comida para não só poupar nos gastos como assim podíamos comer quando quiséssemos.

Escolhemos fazer o percurso pedestre mais curto, cerca de 1.5km pois estávamos com o tempo algo contado e estava bastante calor. Durante o caminho parece que estamos noutro planeta devido às formações rochosas estranhas em todo o lado e no final a visita ao miradouro é obrigatória.

Deixamos Antequera e partimos em direcção a El Chorro para visitar o Caminito Del Rey. Já tinha estado no Caminito em 2013, na altura ilegal e quis voltar agora para ver as diferenças. Foi feito um caminho em madeira novo por cima do original que data de 1921 e estava em mau estado, tão mau estado que era considerado o caminho pedonal mais perigoso do mundo. O caminho leva-nos pelo meio do Desfiladeiro de Gaitanes a cerca de 300metros de altura em algumas partes onde podemos verificar o caminho antigo por baixo e ficar deslumbrados com toda a vista. Pensei que o meu bilhete era para as 17h30 e afinal a entrada era ás 17h, tive de correr quase 3 km desde a entrada junto à estrada até à entrada do desfiladeiro onde verificam os bilhetes. Lá me deixaram entrar pois a última excursão tinha entrado à pouco e finalmente estava em cima do caminho de madeira. Posso dizer que preferia quando era ilegal, sem pessoas e sempre aquele piquinho de adrenalina e apesar de ir conectado a uma via-ferrata havia sempre aquela possibilidade de algo correr mal. Mas mesmo assim não desapontou e felizmente aproveitaram toda a área circundante para melhorar os acessos e ter o apoio de vários serviços locais como cafés e restaurantes e até ter um autocarro para levar as pessoas da saída até à entrada.

 

Dia 4- Último dia em Ronda. Fomos até Setenil de Las Bodegas, uma pequena vila bastante pitoresca com algumas casas construídas debaixo de rochas de um desfiladeiro. Andamos perdidos por ruas e ruelas, a ver as vistas do castelo e a beber algo fresco à sombra do desfiladeiro. Estive por Setenil também em 2013 e é incrível ver o quanto evoluiu a nível de turismo, passou de ter algumas pessoas para as ruas estarem em constante hora de ponta.

Regressamos a Ronda e decidimos ir de carro até à parte de baixo da ponte e almoçar pelas redondezas. Estava um calor abrasador, mas lá consegui subir a um sitio para tirar umas fotos catitas antes de voltar ao carro. Passei parte da tarde a andar a pé por Ronda a ver todas as ruazinhas e jardins, a "tomar banho" em todas as fontes (devido ao calor) e ainda deu tempo para aproveitar a belíssima piscina do parque de campismo.

 

Dia 5- 3h30 separam Ronda de Tabernas, o nosso próximo destino onde existe o tão famoso deserto, um sítio onde já tinha estado 2 vezes anteriormente, mas que nunca perde o encanto.

Já chegamos a Tabernas a meio da tarde e o calor ainda era superior ao que estava em Ronda. Íamos procurar um Camping, mas achamos que ia ser um suplicio dormir numa tenda com uma temperatura tão elevada na rua e decidimos ficar num hotel onde já fiquei anteriormente chamado Hospedaria Del Desierto. Tem A/C e piscina, era tudo o que queríamos. Demos uma voltinha pela zona do deserto para ver as vistas, mas realmente o calor era demasiado, decidimos acabar o dia pela piscina até quase o sol se pôr.

Depois do jantar ainda fui aproveitar o escuro total da zona e o calor alto para ver o céu estrelado e tirar umas fotos e brincar com as várias exposições da lente, claro que não faço ideia do que estava a fazer, mas foi engraçado experimentar aquilo tudo e ver os diferentes resultados, só eu e os pontinhos brancos no céu. Realmente há coisas pequenas que nos preenchem, esta foi uma delas. 


Dia 6- Fomos dar uma volta pela cidade de Tabernas, muito calor e tudo fechado, a ideia seria ir até ao castelo, mas ninguém estava com grande disposição para subir debaixo de calor abrasador e após ponderação forte decidimos encontrar um sitio à beira-mar. A minha ideia era ir até Carboneras e aproveitar a Playa de los Muertos. Fizemos a viagem de 1 horas e depressa percebemos que era impossível encontrar alguma coisa nas redondezas. Tudo estava apinhado de gente, era impossível estacionar na praia, a cidade de Carboneras estava cheia de pessoas e com todos os hotéis e pensões cheios e todos os parques de campismo em Cabo de Gata-Níjar eram um pouco caros para sequer considerar uma estadia. Decidimos almoçar por Carboneras e subir junto à costa para encontrar um poiso. É engraçado que considerem apenas Tabernas como deserto, porque desde Madrid até ao sul (uma parte do país descendo para sudeste) é praticamente tudo zona de vegetação pequena típica de sítios com pouca água e bastante secos. Basta abrirem o GMaps, é incrível como é tudo castanho nessas zonas, mas indo para o interior do país fica tudo bastante verde e ao conduzir vamos vendo a mudança nas paisagens, é incrível.

Fomos subindo o mais junto à costa possível desde Carboneras e o cenário não poderia ser melhor, vistas incríveis do Mediterrâneo com a estrada a serpentear pelos vales e montanhas, tudo castanho e com vegetação mínima. Passamos por dois campings, um deles estava cheio e o outro não tinha ninguém na recepção, decidimos continuar até uma cidadezinha costeira chamada Mójacar. O camping El Cantal foi o nosso destino, bom preço e com acesso directo à praia por um túnel debaixo da estrada principal. Escolhemos um sítio para montar a nossa casa nos próximos dias e fomos para a praia. Já era meio da tarde e estava um pouco de vento, apesar de ser quente, e pensei que ia só molhar os pés para refrescar um pouco e qual não foi o meu espanto quando percebi que tinham ligado o esquentador? Pois é, eu sabia que a água aqui seria mais quente, mas não estava à espera disto! Escusado será dizer que fiquei dentro de água até irmos jantar. 

Durante o jantar o percebemos que Mójacar era uma espécie de Benidorm em ponto pequeno, cheio de bares e animação e que os miúdos usavam o parque de campismo para ficar uma noite, era vê-los sair da tenda todos aperaltados para irem para a noite. Estranhei um pouco, devo dizer. Estávamos um pouco para a zona interior do parque e havia ali muito pessoal que não sabia bem o que era acampar sem fazer barulho, música a tocar, tudo aos gritos e comecei a ver que ia ser um problema. Pedimos para trocar de lugar e lá fomos nós mudar tudo para uma zona mais próxima da entrada e mais calma. Apesar de ser de noite fiquei com tanto calor que fui tomar um banho nos chuveiros junto ao túnel para a praia, a água "fria" soube pela vida. As noites no verão nesta zona são húmidas e quentes, dormir pode ser um pouco chato numa tenda, mal nos deitamos fica uma camada de suor entre nós e o colchão, mas como eu gosto de calor, quero lá saber, achei pior os miúdos bêbados a chegar da noite e a fazerem barulho. 

 

Dia 7- Foi dia de relaxar, recarregar baterias, fazer umas compras e aproveitar a praia incrível, passear junto à praia, ir jantar pizza e ouvir as músicas das bandas que tocavam nos bares de praia. Também precisamos de dias sem planos por vezes!

 

 
Dia 8- Acordei e descobri que havia uma exploração mineira em Cabo Gata-Níjar onde filmaram o Indiana Jones and the Last Crusade e bom... não havia discussão: é aqui que vamos hoje!

Viagem foi pouco mais de 1 hora e entramos no complexo mineiro em grandes estradões de terra. Para aceder aos ditos túneis tive que deixar o carro um pouco mais abaixo, o acesso estava cortado e fiz o resto do caminho a pé. O túnel onde foi filmada a famosa cena do carro a fugir ao avião e entrarem no túnel é bastante comprido e diziam que se podiam ver alguns restos dos cenários, mas não reconheci nada a não ser lixo, acho que já muita gente levou souvenirs deste túnel para casa. As vistas eram incríveis também e ainda deu para explorar um pouco o complexo mineiro com tuneis enormes com vários metros de altura e uns outros mais pequenos, totalmente escuros e que segundo li existem centenas deles e não é aconselhada a exploração sem um guia pois facilmente se pode cair ou ficar perdido. Portanto tudo o que fiz foi só dar uma vista de olhos muito superficial e voltei para o carro. Que manhã espectacular que foi!

Havia umas quantas praias nesta zona que queria visitar, mas também não me apetecia andar no para-arranca com o carro, então decidimos voltar a Mojácar, estacionar o carro e aproveitar a belíssima praia de água quente e transparente para nadar e ver os peixinhos todos pela última vez, pois no dia a seguir íamos continuar a viagem.

 

Dia 9- Os meus planos depois de Mojácar eram para continuar a subir, ir a Cartagena, ir a Pu Clar e a Gorgo de la Escalera já mais perto de Valência, subir até Albarracin e depois sim vir para Portugal. Mas por outro lado pensei na logística que era montar e desmontar a tenda quase todos os dias (tenho uma daquelas tendas grandes que demoram um pouco a montar e desmontar) e decidimos alterar os planos e fazer algo mais calmo. Tomamos, penso eu, a melhor decisão: seguir para a Serra de Gredos, entre Madrid e a fronteira com PT. Viagem de quase 7 horas seguidas, partimos cedo e correu tudo bem sempre e chegamos depois de meio da tarde (devido a algumas paragens para esticar as pernas) para umas compras e arranjar lugar no Camping. Ficamos em Madrigal de la Vera, um sítio bastante central para podermos ir para qualquer parte da serra facilmente chamado Camping de la Mata. Aqui sim já eram temperaturas mais amenas ao final do dia e de noite, apesar de durante o dia ainda fazer perto de 40 graus. Mas já dormíamos sem calor e até houve noites que me tapei!

 

Dia 10- Dormimos até tarde e fomos dar uma volta a pé pela zona junto ao rio que fica mesmo ao lado do Camping. O rio tem umas piscinas naturais muito fixes, depois de almoço passamos a tarde de molho a aproveitar o sol e o fresco da água do rio, foi mais um belíssimo dia calmo.

 

Dia 11- Acordei cedo e fui fazer uma caminhada que vi no AllTrails, 11km feitos em 2horas, coisa simples que subia numa das margens do rio e entrava pelo topo da cidade de Madrigal, até ao camping. Fomos tomar um banho ao rio e depois de almoço fomos mais para o interior da serra, numa zona chamada Guisando. Estacionei o carro num largo chamado La Cabra com uma estátua de uma... adivinharam: cabra! 

Há uma caminhada que tem vistas lindas da serra e que sobe 6km até um miradouro e depois claro 6km na volta sempre a descer. Ainda tentei fazer a subida, mas levava o miúdo no baby-carrier ás costas, quase 20kg com uma inclinação considerável e estavam mais de 30 graus, decidi fazer apenas 1,5km pois as costas e os joelhos estavam mesmo a sofrer e digamos que a descida ainda foi mais sofrível, portanto foi a decisão correcta. Mesmo assim conseguimos tirar umas fotos incríveis e fiquei contente. 


Dia 12- Mais um dia a acordar bastante cedo e decidi ir fazer uma caminhada num trilho não delineado. O rio ao lado do camping tem pedras enormes, redondas e decidi subir o mesmo pelo leito, de pedra em pedra até ao máximo que me apetecesse ou fosse seguro voltar para trás. Apanhei piscinas de água transparente lindas. Subir o rio sempre com o barulho da corrente era altamente hipnotizante e calmante. Subi 6km até onde o rio se dividia em dois e como não conhecia a zona decidi então subir para terra firme e descer tudo pelo monte, sempre acompanhado do GMaps para garantir que ia na rota correcta. Demorei cerca de 4 horas nestes 12km totais, mas porque a subida foi super calma, tirar bastantes fotos e aproveitar a paisagem. 

Era o último dia destas férias, passamos o resto do dia dentro de água, descansamos bem e no dia seguinte voltamos a casa.


 
Não chega a 500km ir de Lisboa à Serra de Gredos, a viagem foi feita sem problemas e com boas estradas e dentro dos tempos previstos. Chegamos cedo, satisfeitos e mal estacionei já estava com saudades de acampar de novo. Realmente foi das poucas férias em que senti aquele bocadinho de depressão pós-férias. Queria voltar à estrada, descobrir sítios novos, acampar, mergulhar em sítios que não conheço, ver vales e montanhas e rios que não conhecia. 

Mas este meu pequeno blog serve para isto mesmo. Registar para mais tarde recordar. Para viajar um pouco sempre que o leio. E agora principalmente, partilhar um pouco deste sentimento com o meu filho quando ele souber ler para recordar o que já viajamos também. 

 Mais uma vez voltei a sítios que já conhecia e mais uma vez digo: não voltem onde foram felizes antes? Nada disso, voltem e repitam sempre! Faz maravilhas pelo nosso coração.

Estou em pulgas por novas aventuras em Espanha, quem diria que mesmo aqui ao lado temos um país tão acessível e rico a nível cultural e ambiental?





Stay fresh!

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