09 dezembro 2021

N2 - A PT Roadtrip 2021

Quando
falamos na Mother Road, claro que nos lembramos da Route66 que vai de Chicago a Santa Mónica, LA (fiz 300km dessa mesma estrada em 2015, podem ler tudo aqui - Midwest Americano e NY - Julho 2015). Mas, e a Estrada Mãe aqui no nosso canto plantado à beira mar? É verdade, temos uma, a Nacional 2 com os seus gloriosos e não menos excitantes 738km, única na Europa que atravessa um país na sua longitude. Percorre 35 concelhos, tem 11 pontes sobre rios e atravessa 11 serras. Querem melhor para conhecer as belas paisagens que compõem Portugal? Relaxem na vossa cadeira e tirem ideias para a vossa próxima viagem.

Combinei com o meu amigo João (quem mais? é sempre ele que me acompanha nestes km de mota) sair cedo de Lisboa para irmos almoçar a Chaves. Era inicio de Junho, tinham passados quase 3 anos depois da minha (nossa) última viagem de mota (podem ler tudo aqui - Galicia Roadtrip 2018) e estamos numa pandemia que teima em não nos deixar mas já estava a precisar espairecer e como ia andar de mota muito dificilmente iria estar em contacto com pessoas. A viagem até Chaves fez-se bem, sempre em AE, o tempo ao passar a Serra de Candeeiros mudou um pouco e ficou um pouco de frio e húmido, a querer chover, mas ao passar Viseu o tempo melhorou e ficou bastante calor. 

Após repor energias era tempo de pensar no que fazer a seguir. Fomos até ao KM0 para beber um café e decidimos começar o caminho ainda naquela tarde. O tempo estava optimo e ambos conhecemos Chaves pelo que não havia nada específico que quiséssemos ver então pusemo-nos a caminho munidos do Passaporte da N2, uma espécie de diário para carimbar nos pontos mais importantes do percurso (e aqueles cujos municípios pagaram para aparecer porque não faz sentido fazer um desvio de 30 ou 40 km para fazer mais um carimbo se a estrada nem passa lá).

Partimos sem destino específico, só a aproveitar o bom tempo e andar até a fome apertar. Como o norte de Portugal é zona de montanha a estrada é sempre cheia de curva e contra-curva mas largas o suficiente para parecer que estamos a voar e a deslizar ao sabor da brisa. Demos o dia por terminado no Peso da Régua e tentamos procurar um sitio para dormir. Pelos vistos não são grandes fans de parques de campismo nesta zona, não havia nada perto. Verifiquei que havia um parque de caravanismo por baixo da Ponte da Régua que é apenas um espaço com uns sítios delineados com relva e electricidade geridos pelo Clube de Caça e Pesca local. Perguntamos se podíamos montar as tendas ali e disseram logo que sim, que não haveria qualquer problema, se fosse preciso electricidade acho que era 1 ou 2 euros por noite. Dormir está resolvido, vamos então sentar numa pizzaria que estamos cheios de fome. Nessa noite adormeci ao som dos carros que passavam lá bem em cima na ponte da A24.


Segundo dia começou cinzento e fresco e assim ficou. Bebemos um cafézinho e seguimos pela N2 até Lamego. Demos de caras com a placa dos 100km a 4km de Lamego, tiramos a foto da praxe e seguimos para uma visita rápida ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios que tem uma escadaria que faz qualquer pessoa tremer das pernas. Verifiquei no Google Maps que tinha um ponto de interesse ali perto e que já o tinhamos passado, a Barragem do Varosa. Voltamos atrás pela N2, seguimos por uma rua bastante secundária perto do KM100 em direcção à barragem em que certa altura o alcatrão acaba e o caminho fica bastante sinuoso. A barragem tem uma particularidade engraçada, uma escadaria na lateral que quase parece um labirinto, só por isso vale a pena o pequeno desvio!
Fizemos o caminho de volta para a N2 e lá fomos nós em direcção ao próximo destino: o Baloiço da Pedreira. Compramos umas coisas para comer em Castro Daire e continuamos pela N2, troço bastante fácil de se fazer com curvas largas e paisagens sempre verdejantes.
O sitio do Baloiço da Pedreira é bastante engraçado para ser fazer um piquenique. Várias coisas em madeira, bancos e até camas de rede e com um baloiço com vista para o lago são ingredientes ideiais para relaxar enquanto se come qualquer coisa. Decidimos arrancar quando começou a choviscar, não bastava estar fresquinho também tinha de cair água? Pouca sorte! 
Os 120km seguintes correrem sem percalço, o troço até Góis é muito bom de se fazer. A zona a seguir a Santa Comba Dão é complicada porque a N2 funde-se com a IP3 e não sabes bem onde sair e entrar e as próprias placas podem enganar mas lá demos com a estrada após algumas paragens para verificar os mapas. Ainda podem parar para ver a Livraria do Mondego, uma formação rochosa fora do normal que se parece com livros alinhados lado a lado e aproveitar para ir a uma velocidade mais lenta para fazerem as curvas que sobem a seguir a Penacova nas calmas e disfrutar da paisagem. 
Fomos directos ao Camping de Góis, preço à maneira, tá feito. Montar as tendas, tomar um banho e
ir a pé procurar um sitio para comer. Apesar do frio e da chuva o dia foi bastante bom.



Ao terceiro dia o sol já raiava de novo, desmontamos o acampamento e fomos visitar as Fragas de Carcavelos, indo por um caminho junto á ponte de Góis. Esse caminho vai dar a uma aldeia muito pequenina onde termina a estrada, depois é necessário estacionar e entrar a pé num caminho de terra pelo meio das casas e que desce a encosta aos S's até ao rio. O sitio parece mágico, aquele rio a correr no sopé das montanhas com aquelas fragas enormes que fazem várias cascatas pequenas é mesmo digno de paraíso. Apanhamos um pouco de sol, relaxamos ao sabor do vento e do som da água e lá partimos de novo na nossa demanda.
Antes de Pedrogão Grande passamos pelo marco dos 300km e um pouco à frente estivemos em cima da Barragem do Cabril, uma das maiores e mais imponentes barragens em Portugal que provoca vertigens a qualquer um.
Compramos o almoço na Sertã e seguimos para o Centro Geodésico de Portugal, ao lado de Vila de Rei, zona esta uma das minhas preferidas em Portugal. Montanhas com o Zêzere à espreita? Não se podia pedir melhor. A vista do Centro Geodésico é incrivel. 
Da parte da tarde tivemos tempo de visitar a Cascata dos Poios, quase me sentia um Hobbit no Senhor dos Anéis. Descemos com as motas por um caminho de terra o máximo que podíamos e seguimos o resto a pé junto a uma parede de uma montanha que brotava água em alguns pontos e fomos dar com a cascata imponente mais ao fundo. 
Fomos visitar também o Passadiço do Penedo Furado e respectiva cascata. Achei a dos Poios mais interessante devido ao caminho mais "natural" até lá, o passadiço tira um pouco a piada da coisa, mas está na moda agora não é?
A praia fluvial uns metros antes tem muito bom aspecto, mas estava com algumas obras de melhorias quando fomos lá pelo que não aproveitamos muito. Como também não estava assim um calor abrasador estivemos a esticar o corpo um pouco, e voltamos à N2 para terminar o dia em Mora, no parque de campismo junto ao Fluviário com uma praia espectacular. 


O quarto dia foi o último desta saga da N2. De Mora até Faro não havia nada de específico que quiséssemos ver e ao passar o Alentejo já estava um calor abrasador pelo que parar não estava muito nos nossos planos, mais valia ir a andar e aproveitar o vento para refrescar, apesar de quente. Tiramos a foto no KM 500 e claro, no 666. Subir a Serra do Caldeirão foi algo que não ansiava e sinceramente não tirei prazer nenhum nisso, apesar de quem anda de mota dizer que é fantástico. Não sei mas não acho grande piada a subir a montanha em curvas tão fechadas que quase ia mais rápido a pé. Se calhar foi de estar cansado de ter passado o dia a conduzir, não sei, mas só queria que passasse rápido.
Em São Brás de Alportel fomos até ao Moto Clube local e fomos super bem recebidos com uma simpatia fora do normal, não nos deixaram pagar as águas que bebemos e ainda tivemos um pouco à conversa e fizeram-nos uma tour ao local.
Chegamos a Faro ao final do dia, foto ao KM 738 e fiquei feliz por ter feito esta estrada espectacular, um pouco da nossa cultura, a nossa Mother Road. 



Tenho vontade de fazer tudo de novo mas a partir de Faro e de carro com a a familia, com tenda ás costas. Também quero fazer outra versão: de moto mas em offroad! Talvez quando a minha XT estiver pronta avanço com este plano, espero que não falte muito!

Esta estrada pode ser feita em 4 dias como nós, ou muitos mais se quiserem explorar todos os cantinhos da N2. Tudo depende dos dias que quiserem gastar. Estes 4 dias foram super cheios, e por mim foi o ideal, não sou pessoa de gastar muito tempo nos sitios onde paro quando o objectivo é fazer uma roadtrip como esta, quero é sentir o motor e as curvas e ver a paisagem a passar por mim e a mudar com o passar do dia. 

Última foto no dia que voltamos para cima, no Miradouro da Fóia, para celebrar as nossas máquinas que ano após ano continuam aqui fortes, a fazer roadtrips sem parar!



Stay Fresh.


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