01 julho 2014

El Caminito Del Rey - Setenil de Las Bodegas - Gibraltar


Bem, foi á um ano que eu e a Joelma agarramos no André e fomos até Espanha, Desfiladero de los Gaitanes, El Chorro - Málaga, para ser mais exacto. Já conheciamos o Caminito del Rey daqueles sites que mostram as coisas mais perigosas do mundo e este sempre foi catalogado como o caminho pedestre mais perigoso, e sendo "ao lado de casa", a curiosidade sempre foi mais que muita. Sabíamos que o caminho ia ser recuperado algures nos próximos anos portanto o tempo escasseava, Decathlon connosco para comprar o material de Via-Ferrata e vamos lá passar um dos melhores fins de semana de sempre.

Estive um ano para escrever este report, é verdade. Estava à espera de fazer o vídeo que filmei com a GoPro mas estou a ver que isso está transformado numa tarefa eterna. Prometo que vai saír ainda este Verão. Ou não.

Bem, saímos de Lisboa depois de almoço numa sexta-feira em direcção a Setenil de Las Bodegas, um sitio que tinha lido algures que era fantástico e bastante pitoresco. Chegar lá é que foi um filme, já era de noite, jantámos pelo caminho, na rua á porta de uma bomba de gasolina fechada porque tinha uma luz de presença, gipsy style, e por muitas voltas que dessemos, pareciamos não atinar com o caminho para a tal vila. Chegámos a entrar numa estrada em que numa parte tinha desabado o alcatrão todo e estava uma cratera gigante à nossa frente e ao saír do carro para ver deparo-me com a maior ventania que alguma vez passou por mim, ao ponto de ter que me agarrar ao carro para não caír. Acabamos por dormir na primeira vila que nos apareceu á frente e seguir caminho bem cedo para Setenil de Las Bodegas.

Após acordarmos e comer qualquer coisa, reparámos que estavamos a poucos km do nosso primeiro destino, tanto que demorámos uns 10 ou 15 minutos até lá, mas de noite e com aquele vento parecia que estavamos do outro lado do mundo! Engraçado quando começamos a descer para Setenil e vemos a vila em baixo e começamos a reparar realmente na arquitectura e em como as casas estão literalmente por baixo do monte. Demos uma volta pela vila, tirámos umas fotos, apreciámos o local e ficámos contentes por ter valido mesmo a pena, mas El Chorro chamava por nós.



Ao chegar ao desfiladeiro o nervosismo apodera-se de nós e mal começamos a ver o inicio do caminho e a altura e possivel dificuldade é inevitavel os comentários nervosos e a excitação e a adrenalina a aumentar. Estacionada a carrinha está na altura de nos equiparmos. Corda - Check. Mosquetoes - Check. Arnês - Check. Ténis - Check. Mochila - Check. Água - Check. Maquinas de fotos e GoPro - Check. Siga.

Começámos a subida até á linha do comboio que nos leva à entrada do caminho que são cerca de 6 ou 7 minutos a pé. Se pensarem em lá ir não se esqueçam que é ilegal andar por lá e a multa são cerca de 5000€, levem dinheiro ou então vão com mil olhos a ver se encontram a policia a rondar. Encontrada a linha temos que descer um pouco o monte que vai dar a um penhasco para a água e aí começa a via-ferrata mais perigosa do mundo e mantida ilegalmente por um grupo de escalada da zona, logo a segurança não deve ser de fiar, não tenham algum acidente e depois dizem que querem processar alguém. Não vai funcionar.

Digo desde já que o mais dificil do caminho é subir até ao mesmo pois temos que nos armar em macacos e esticar ao máximo para escalar horizontalmente uns 15metros de parede com apenas algumas saliências e uns ferros para pormos os pés. O inicio do caminho original foi deitado abaixo para ninguém subir ao mesmo então este é o unico caminho que existe, sike! Se fores baixinho vais passar mal, se fores baixinho e nervoso vais vacilar muito e se fores baixinho, nervoso e com vertigens, nem metas lá os pés pois quando olhas para baixo são uns 100 metros de altura, mas ao menos a queda é para dentro de água.


Ao colocar os pés no caminho original é um respirar de alívio, penso que seja tipo a calma antes da tempestade. É o apreciar da vista, o apreciar do que escalámos para ali chegar, é o aproveitar o calor (e que calor), o "fresco" do vento (e que ventania, quente apesar de forte), o sentirmo-nos pequenos no meio de tamanho desfiladeiro (nem quero imaginar no Grand Canyon então). Seguindo as normas de segurança de estar sempre preso à via-ferrata, fomos andando até ao primeiro desafio: uma curva de praticamente 90 graus em que o caminho cedeu e só havia uma viga de ferro para colocar os pés a cerca de 1 metro da parede. Respirar fundo, mãos na parede, pé ante pé e em menos de nada já tinha passado. Fácil! Mas devo ser eu que lido bem demais com alturas e este tipo de dificuldades. Ao virar a esquina o vento fica bastante forte ao ponto de ter feito voar o chapéu da Joelma e nunca mais o termos visto. Passámos uma espécie de ponte em ferro que tem água a passar pelos lados e chegámos a uma parte mais abrigada com uns túneis. Um deles iria dar a um buraco na parede do desfiladeiro e viamos o inicio do percurso, uma vista brutal. O outro apenas seguia o caminho até ao final, devia ser onde tinham os vagões. Logo aí mais á frente deparamo-nos com uma placa a indicar o local onde faleceram 3 amigos quando estavam a acampar no local. Mais à frente no caminho também há uma placa de uma outra pessoa que faleceu ao caír dali para baixo. Os 3 primeiros ao acampar e pelos relatos que há na net, já estariam um pouco embriagados e caíram. O outro foi fazer o caminho num dia de muito nevoeiro e a coisa não correu muito bem. As pessoas não podem facilitar e muitas vezes esquecem-se dos perigos.

O caminho faz-se todo bastante bem e a vista é fantástica. O mais brutal é olhar para trás e chegarmos á conclusão que passámos por ali, por aquele sitio a mais de 100 metros de altura da água lá em baixo, um caminho ridiculamente estreito e a caír aos poucos. A adrenalina aí sobe de novo e ficamos com mais vontade de continuar e ver mais ainda!

Cheg.amos ao final da primeira parte e não sabíamos se havíamos de continuar ou descer até ao rio e subir até á linha do comboio para irmos embora. Ficamos ali um pouco na dúvida e decidimos descer até ao rio para ir embora. Andamos ali ás voltas, passamos o rio descalços e tratamos de arranjar maneira de subir a ravina. Lá encontramos um cabo no chão colocado por alguém para aquele propósito e subimos sem problemas. Entramos na linha de comboio e apanhamos um grupo de Portugueses que vinham mais de trás e perguntámos se o caminho afinal continuava, o que confirmaram, que havia mais uns quantos metros de caminho. Ficámos indignados e um pouco chateados por não termos seguido, mas o caminho estava feito, tínhamos percorrido o caminho mais perigoso do mundo. Não havia que ficar triste mas sim orgulhoso e feliz por partilhar aquele momento com a Joelma e com o André, melhor companhia não podia pedir.

Fomos para o carro contentes, arrumámos tudo, fomos almoçar perto da estação de El Chorro e seguimos caminho até Gibraltar. Passámos por Marbelha pelo caminho e fiquei impressionado com a cidade, bonita, ampla, boas praias, gente bonita e motas fixes por todo o lado. Não ficámos porque queria ir ver os macacos a Gibraltar, era o meu objectivo a seguir. Chegámos ao final do dia e o André teve que ficar no lado espanhol pois só se podia passar a fronteira para Gibraltar com identificação, a qual ele tinha deixado em Pt. Sem stress, ele foi até á praia um pouco e eu e a Joelma subimos o parque natural e fomos ver os unicos macacos selvagens ao ar livre da Europa. Têm bastante piada, curiosos com tudo e fazem algumas parvoices como tentar roubar o lenço de uma mota ou tentar partir um espelho da mesma. Até acharam que a minha carrinha era um bom poiso e andavam la por cima e pendurados no espelho.




Hora de voltar e ir apanhar o André e de procurar sitio para dormir. Tinhamos pensado em Algeciras pois é onde toda a gente fica quando apanha o barco para Marrocos e sempre tive curiosidade em conhecer. Tem um porto gigante e por sua vez cheira um pouco mal, talvez pela água parada do porto. Procurámos o sitio mais baratinho numa pensão qualquer de aspecto duvidoso mas confortável. Andámos um pouco a pé á procura de restaurante e no meio de tanto restaurante africano não foi dificil escolher. Ao irmos para o quarto pensámos todos o mesmo: Algeciras é uma chungaria que não se pode! Não quer dizer que me sinta ameaçado lá, mas é realmente chunga. Recuperamos energias e no dia seguinte viemos embora para Lisboa directo, com um pequeno desvio nas Minas de São Domingos só para recordar quando lá estivemos a última vez.


Não sei se vai ser possível ir lá de novo antes de recuperarem o sitio, mas seria bom de voltar a acontecer e principalmente se conseguisse passar a noite lá dentro. Brevemente irei editar o video e colocá-lo online. Ou não.

Stay Fresh 

PS - Ficam dois vídeos que fiz upload para o Youtube só para terem uma uma noção. Enjoy.